Notícia publicada na edição de 15/06/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno B
Em uma época em que o forró, o sertanejo e o pagode ganharam o apelido de “universitários”, recurso utilizado para conquistar mais adeptos e dar uma cara de novo a algo tradicional e que havia sofrido um certo desgaste na imagem, o sambista de partido-alto Arlindo Cruz se diverte com as nomenclaturas. Para ele, independente do nome, o samba é bom de qualquer jeito. “Tem muita gente nova que faz samba muito bem com linguagem nova e tem muito cara da antiga que tem samba maravilhoso. Adoro Monarco, Candeia e Nelson Cavaquinho, mas também tem gente boa agora, como o Prateado, o Décio Luís e o Péricles, do Exaltasamba”,
Arlindo Cruz, em entrevista ao Mais Cruzeiro, disse que o repertório da apresentação fará um apanhado dos seus 30 anos de carreira. O sambista deve revisitar músicas da época do Fundo de Quintal, da parceria com Sombrinha, e divulgar o recente trabalho, o DVD e CD duplo “MTV ao Vivo” lançado em 2009. O músico, cantor e compositor do samba afirma que durante todos esses anos acumulou 550 músicas gravadas por artistas como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Beth Carvalho, Almir Guineto e Alcione, entre outros. “Hoje em dia gravo muito menos. Minha agenda está maior como cantor”, ressalta.
Responsável pela popularização do uso do banjo no samba, um gênero mais ligado ao cavaquinho, Arlindo Cruz conta que descobriu que o instrumento era bom para o samba através de Almir Guineto. “Quem eu vi tocar banjo em um samba pela primeira vez foi o Almir Guineto na quadra do Cacique, percebi que ficava um som bacana e tal e então conquistei uma familiaridade muito legal com o banjo, que se tornou meu companheiro.”
Questionado sobre o que exatamente seria o tal do samba de partido-alto (popularmente denominado como pagode), Arlindo Cruz explica que o pagode é uma reunião de sambistas e o partido-alto é um ritmo. “É uma variedade de samba onde geralmente se canta um refrão e se improvisa a segunda parte. É como se fosse um repente. Na essência é um desafio, uma brincadeira. O ritmo é contagiante. O Martinho da Vila popularizou o partido-alto com começo, meio e fim.” Já pagode é a reunião dos partideiros. “É a roda de samba em si. Mas o partido-alto ficou conhecido como pagode porque nos anos 80, entre 84 e 85 houve um estouro grande de artistas nesse gênero e a gravadora colocou como pagode e popularizou”, esclarece.
Ele, que no início de carreira teve o privilégio de trabalhar com Candeia, afirma que o considera seu padrinho musical: “Candeia foi meu professor. Era um compositor que conhecia tudo de negritude, de música negra como partido-alto, afoxé, maculelê, capoeira... Ele sabia toda a parte musical dessas manifestações negras”. Arlindo Cruz conquistou projeção como integrante do Fundo de Quintal, por onde já passaram nomes como Almir Guineto e Jorge Aragão. “O Fundo de Quintal é um marco, uma referência para novos sambistas. Através desse trabalho descobri muitas coisas. Eu diria que o samba existe antes e depois do Fundo de Quintal, com certeza. O Fundo de Quintal foi uma grande escola pra mim. Eu aprendi a me apresentar, a cantar, a mostrar o meu trabalho no grupo. É uma referência para a nova geração. Mesmo depois de anos, é um grupo que continua forte.”
Quem olhar com atenção para Arlindo Cruz, não deixará de perceber ainda seu lado família. O banjo que toca, por exemplo, ostenta discretamente no cantinho um adesivo cor-de-rosa da gatinha Hello Kitty. O próprio Arlindo riu muito pela curiosidade da reportagem. Imagina um sambista autêntico, com aquela imagem típica de “bom malandro”, com um enfeite desses em seu instrumento. Simplesmente não combina. Depois que esclareceu, foi possível constatar que combina sim, com seu amor de pai. A filha de 7 anos que colou, para estar mais próxima dele. “Sambista é assim, filho manda na gente”, diz, todo orgulhoso de sua pequena.
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