RIO - Ter os seis integrantes do Fundo de Quintal reunidos em torno de uma mesa é algo quase natural, já que foi assim que o grupo surgiu, em 1978, revitalizando as rodas de samba na cidade e a história do samba no país. O estranho é vê-los não na quadra do Cacique de Ramos, na Rua Uranos, debaixo de uma famosa tamarineira, e sim sob as árvores do amplo quintal da gravadora Biscoito Fino, na Rua Sarapuí, no alto do Humaitá.
“Nossa verdade”, o CD que chega às lojas no próximo dia 25, marca esse casamento inusual entre um conjunto associado aos subúrbios, colecionador de discos de ouro e platina por causa de seu amplo público, e uma gravadora da Zona Sul reconhecida por trabalhos sofisticados no campo da MPB, sem preocupação com sucessos de massa.
— A Biscoito está com 11 anos, é quase uma mocinha, cheia de vontades próprias. Não é mais o meu gosto de cantora de MPB que determina o que vamos lançar. É um critério: queremos coisas importantes da música brasileira. Na linha de samba tradicional, o Fundo é um dos melhores — explica Olivia Hime, diretora artística da Biscoito.
— Achamos que era hora de experimentar algo diferente, mas sempre com os pés no chão. Fomos bem recebidos, e ficou claro que também há lugar para o samba na gravadora — diz Ubirany, que forma com o irmão Bira Presidente e Sereno a trinca de fundadores que permanece no grupo.
Foi Martinho Filho, gerente artístico da Biscoito Fino e um dos oito rebentos de Martinho da Vila, quem levou a Olivia o CD do Fundo. A aproximação veio a calhar, pois o sexteto queria assinalar “Nossa verdade” como um trabalho especial, ao mesmo tempo restaurador de antigas características e sinalizador de novas.
Desde “Pela hora”, de 2006, o Fundo não lançava um disco em que predominam músicas inéditas (há três exceções, entre elas o levanta-poeira “Conselho”), tendo passado os últimos anos envolvido em projetos ao vivo, de regravações ou de interpretação de sucessos do gênero, como “Samba de todos os tempos” (2008), feito na esteira de participações no “Domingão do Faustão”.
— Assim como o nosso público, estávamos com saudade de fazer um disco com esse perfil. É uma forma de mostrar o que é o Fundo de Quintal e, também, o processo evolutivo dele — afirma Ronaldinho, de 52 anos, no grupo desde 1992 cantando e tocando banjo.
Para explicar o que é o Fundo, vale um passeio até o final dos anos 1970. Em torno de descompromissadas rodas musicais no Cacique de Ramos, que se seguiam a peladas de futebol, formou-se uma geração que mudou a cara do samba. A maneira de tocar se alterou após Ubirany criar o repique de mão, Sereno fazer o tantã a partir de uma adaptação da tambora dos boleros, e Almir Guineto trazer do Salgueiro o banjo com afinação de cavaquinho.
Recuperando a tradição do partido alto, cantavam Jorge Aragão, Sombrinha (ambos da primeira formação do Fundo), Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jovelina Pérola Negra e muitos outros. Beth Carvalho levou parte da turma para os estúdio no disco “Pé no chão”, de 1978, o Fundo de Quintal nasceu, e começou a ganhar corpo o que a indústria cultural batizou de pagode — depois desvirtuado para um tipo de música melosa, assentada em teclados.
— Nunca usamos teclado. Nossa estrutura é sempre a mesma. E, por isso, ainda estamos aqui. Não vamos mudar nunca — orgulha-se Bira Presidente, que comanda o Cacique há 50 de seus 74 anos e é responsável no Fundo pelo inconfundível toque no pandeiro de 12 polegadas, pouco usado pelos músicos hoje.
Não mudar nunca não significa manter o repertório congelado, daí as novidades de “Nossa verdade”. Por sugestão de Rildo Hora — que produz os discos do Fundo há 25 anos e assinou os arranjos ao lado de Paulão 7 Cordas, Leonardo Bruno e Charlinho Bonfim — cada um dos integrantes apresentou entre quatro e seis sugestões.
Daí foi selecionado um conjunto de músicas que contempla samba de roda, partido alto, calango, samba romântico, exaltação do Cacique (“Cacique, a consagração”, de Sereno e seu filho André Renato) e reverência a um grande nome (“Luz da alvorada”, de Dona Ivone Lara com Delcio Carvalho e Paulinho Carvalho).
— É por isso que eu digo que também estamos fazendo uma volta ao passado. Nossos discos sempre tiveram essas homenagens àqueles que vieram antes e esse perfil de repertório — diz Ubirany, de 71 anos, mesma idade de Sereno. — Ao fazer de novo um disco assim, estamos saldando uma dívida com o nosso público e oferecendo à Biscoito Fino o que eles também têm: credibilidade.
Para o calouro do grupo, Flavinho Silva, de 35 anos, é isso o que aproxima o Fundo de sua nova gravadora: os dois têm uma marca consolidada, uma história.
— Não sou o melhor cantor, o melhor cavaquinista ou o melhor compositor que existe, mas o Fundo me dá algo que já está além disso e que me faz crescer — afirma ele, autor ou coautor de quatro das 15 faixas do CD.
Fonte: Extra Online - "
“Nossa verdade”, o CD que chega às lojas no próximo dia 25, marca esse casamento inusual entre um conjunto associado aos subúrbios, colecionador de discos de ouro e platina por causa de seu amplo público, e uma gravadora da Zona Sul reconhecida por trabalhos sofisticados no campo da MPB, sem preocupação com sucessos de massa.
— A Biscoito está com 11 anos, é quase uma mocinha, cheia de vontades próprias. Não é mais o meu gosto de cantora de MPB que determina o que vamos lançar. É um critério: queremos coisas importantes da música brasileira. Na linha de samba tradicional, o Fundo é um dos melhores — explica Olivia Hime, diretora artística da Biscoito.
— Achamos que era hora de experimentar algo diferente, mas sempre com os pés no chão. Fomos bem recebidos, e ficou claro que também há lugar para o samba na gravadora — diz Ubirany, que forma com o irmão Bira Presidente e Sereno a trinca de fundadores que permanece no grupo.
Foi Martinho Filho, gerente artístico da Biscoito Fino e um dos oito rebentos de Martinho da Vila, quem levou a Olivia o CD do Fundo. A aproximação veio a calhar, pois o sexteto queria assinalar “Nossa verdade” como um trabalho especial, ao mesmo tempo restaurador de antigas características e sinalizador de novas.
Desde “Pela hora”, de 2006, o Fundo não lançava um disco em que predominam músicas inéditas (há três exceções, entre elas o levanta-poeira “Conselho”), tendo passado os últimos anos envolvido em projetos ao vivo, de regravações ou de interpretação de sucessos do gênero, como “Samba de todos os tempos” (2008), feito na esteira de participações no “Domingão do Faustão”.
— Assim como o nosso público, estávamos com saudade de fazer um disco com esse perfil. É uma forma de mostrar o que é o Fundo de Quintal e, também, o processo evolutivo dele — afirma Ronaldinho, de 52 anos, no grupo desde 1992 cantando e tocando banjo.
Para explicar o que é o Fundo, vale um passeio até o final dos anos 1970. Em torno de descompromissadas rodas musicais no Cacique de Ramos, que se seguiam a peladas de futebol, formou-se uma geração que mudou a cara do samba. A maneira de tocar se alterou após Ubirany criar o repique de mão, Sereno fazer o tantã a partir de uma adaptação da tambora dos boleros, e Almir Guineto trazer do Salgueiro o banjo com afinação de cavaquinho.
Recuperando a tradição do partido alto, cantavam Jorge Aragão, Sombrinha (ambos da primeira formação do Fundo), Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jovelina Pérola Negra e muitos outros. Beth Carvalho levou parte da turma para os estúdio no disco “Pé no chão”, de 1978, o Fundo de Quintal nasceu, e começou a ganhar corpo o que a indústria cultural batizou de pagode — depois desvirtuado para um tipo de música melosa, assentada em teclados.
— Nunca usamos teclado. Nossa estrutura é sempre a mesma. E, por isso, ainda estamos aqui. Não vamos mudar nunca — orgulha-se Bira Presidente, que comanda o Cacique há 50 de seus 74 anos e é responsável no Fundo pelo inconfundível toque no pandeiro de 12 polegadas, pouco usado pelos músicos hoje.
Não mudar nunca não significa manter o repertório congelado, daí as novidades de “Nossa verdade”. Por sugestão de Rildo Hora — que produz os discos do Fundo há 25 anos e assinou os arranjos ao lado de Paulão 7 Cordas, Leonardo Bruno e Charlinho Bonfim — cada um dos integrantes apresentou entre quatro e seis sugestões.
Daí foi selecionado um conjunto de músicas que contempla samba de roda, partido alto, calango, samba romântico, exaltação do Cacique (“Cacique, a consagração”, de Sereno e seu filho André Renato) e reverência a um grande nome (“Luz da alvorada”, de Dona Ivone Lara com Delcio Carvalho e Paulinho Carvalho).
— É por isso que eu digo que também estamos fazendo uma volta ao passado. Nossos discos sempre tiveram essas homenagens àqueles que vieram antes e esse perfil de repertório — diz Ubirany, de 71 anos, mesma idade de Sereno. — Ao fazer de novo um disco assim, estamos saldando uma dívida com o nosso público e oferecendo à Biscoito Fino o que eles também têm: credibilidade.
Para o calouro do grupo, Flavinho Silva, de 35 anos, é isso o que aproxima o Fundo de sua nova gravadora: os dois têm uma marca consolidada, uma história.
— Não sou o melhor cantor, o melhor cavaquinista ou o melhor compositor que existe, mas o Fundo me dá algo que já está além disso e que me faz crescer — afirma ele, autor ou coautor de quatro das 15 faixas do CD.
Fonte: Extra Online - "
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